Avanço de combustível limpo de avião e início de produção comercial

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Organização internacional reconhece sustentabilidade do etanol de milho brasileiro para produção de SAF.


Enquanto companhias aéreas aguardam o começo da venda de SAF (combustível sustentável de aviação) em larga escala, laboratórios e empresas relatam otimismo com o início da produção, e a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) avança em discussões internacionais sobre o plantio das matérias-primas utilizadas no processo.

Uma das alternativas para a descarbonização do setor, o SAF polui até 80% menos do que o querosene tradicionalmente usado pelas companhias aéreas. No entanto, ainda é caro e possui volumes insuficientes para dar conta de toda a demanda.

No H2CA (Laboratório de Hidrogênio e Combustíveis Avançados), do ISI-ER (Instituto Senai de Inovação em Energias Renováveis), vários processos para a produção do combustível —chamados no meio científico de rota tecnológica— são testados.

No ano passado, por exemplo, o laboratório concluiu os testes com glicerina. O caminho escolhido para esse projeto foi o chamado de “fischer-tropsch” —um dos processos para a produção de SAF previstos pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis). Nele, um processo químico transforma o hidrogênio e o monóxido de carbono obtidos da matéria-prima em um petróleo sintético (sem origem fóssil), do qual é extraído o SAF.

O projeto foi feito em parceria com a GIZ (Agência Alemã de Cooperação Internacional), que apoia financeiramente outras iniciativas pelo país.

Atualmente, o H2CA testa também a produção de SAF a partir de óleos vegetais e bio-óleo e a partir de gás carbônico capturado do ar, junto ao hidrogênio.

A quantidade produzida é pequena. No processo feito a partir de óleos vegetais, por exemplo, o laboratório obtém por dia cerca de 15 litros de petróleo sintético. De 50% a 60% desse volume vira SAF posteriormente, após o refino.

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Segundo Fabíola Correia, pesquisadora do H2CA, o processo de testagem com óleos vegetais deve durar de dois a três anos e está sendo feito a pedido de empresas da indústria da aviação. Ela diz não poder revelar o nome das companhias. A ideia é que as informações obtidas pela testagem possam servir de base para a reprodução em escala industrial posteriormente.

Em Narandiba, no interior de São Paulo, a Geo Biogás & Carbon, empresa que atua na produção de biogás, planeja começar em 2026 a produção em escala comercial de SAF. A planta recebeu apoio de 1,5 milhão de euros (R$ 9,7 milhões) da GIZ, do governo alemão. O combustível será vendido às companhias aéreas.

A decisão de construir a fábrica de combustível no interior do estado foi tomada depois de a Semil (Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo) fazer um estudo, em parceria com a GIZ, que indicou as vantagens de São Paulo sediar um hub de produção e uso de combustíveis sustentáveis de aviação.

O levantamento apontou que o estado reúne condições únicas de matriz elétrica renovável e abundância de biomassa, além de demanda e infraestrutura associadas ao setor aéreo.

Em outra frente, a Petrobras anunciou neste mês a produção, em fase de teste, de combustíveis sustentáveis, incluindo o SAF. Em nota, a companhia afirma ter efetuado testes de produção do combustível na Reduc (Refinaria de Duque de Caxias), no Rio de Janeiro. A companhia diz estar com testes também em outras refinarias.

A carteira de investimentos do Plano de Negócios 2025-2029 da Petrobras prevê a construção de uma planta para produção de HVO (diesel renovável) e de SAF na RPBC (Refinaria Presidente Bernardes), em Cubatão (SP), com capacidade de produção de 15 mil barris por dia de produtos renováveis.

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A Petrobras afirma que também desenvolve estudos para outras plantas de produção e tecnologias de produtos renováveis.

O total de investimentos previstos no PN 2025-2029 nos projetos de biorrefino é estimado em US$ 1,5 bilhão (R$ 8,3 bi) ao longo do horizonte do plano, segundo a Petrobras.

Paralelamente, neste mês, a Anac anunciou que a Oaci (Organização de Aviação Civil Internacional) reconheceu a sustentabilidade do etanol de milho para a produção de SAF.

“Com isso, há uma menor pressão pela conversão de uso da terra e redução do risco à segurança alimentar, uma vez que duas ou mais safras na mesma área podem atender a diversas demandas, gerando benefícios socioambientais com produção em volume suficiente para atender à demanda global”, afirmou a agência em nota.

De acordo com Filipe Alvarez, gerente executivo de sustentabilidade, governança e disciplina de gestão da Azul, um dos grandes desafios para a produção de SAF hoje está na competitividade de preços e na necessidade de reconhecimento internacional da sustentabilidade das matérias-primas brasileiras.

“Infelizmente, enfrentamos uma resistência de países europeus que, por vezes, questionam de forma equivocada insumos como a cana-de-açúcar, mesmo quando cultivada em áreas legalizadas e distantes da Amazônia”, diz Alvarez.

Ele afirma que a Azul vem firmando memorandos de entendimento com empresas que pretendem produzir SAF no Brasil. O objetivo é compartilhar informações técnicas e de planejamento de demanda.

“É importante destacar que, para a indústria brasileira de SAF ser economicamente viável, será essencial exportar parte significativa da produção. Portanto, garantir que nosso SAF seja reconhecido como sustentável por mercados internacionais é hoje uma das principais barreiras a serem superadas.”

A GOL diz participar ativamente dos debates sobre o tema no Conexão SAF, um fórum conduzido pela Anac que reúne representantes do setor de aviação para promover a produção e o consumo de combustível sustentável no país.

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“A Companhia reforça que a transição energética na aviação exige a criação de políticas públicas que viabilizem a produção e o uso do combustível sustentável em grande escala e com preços competitivos democratizando o acesso ao voo, diferente do cenário atual, em que o SAF pode custar quatro vezes que o QAV (querosene de aviação)”, afirma em nota.

Já a Latam reforçou a estratégia de sustentabilidade do grupo, que busca neutralizar 50% das emissões domésticas até 2030 e alcançar a neutralidade total de carbono até 2050 (Folha, 27/7/25).

Fonte: Brasil Agro

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